UMA REFLEXÃO SOBRE A PRODUÇÃO DO ESPAÇO Paulo Godoy1

16/03/2013 19:31

 

Resumo
O objetivo deste artigo é o de analisar as bases teóricas da noção de ‘produção do espaço’ 
bem como a sua utilização pela vertente crítica da geografia brasileira. A idéia central é a 
de suscitar o debate sobre a concepção crítica da produção do espaço, de modo a trazer à 
tona algumas questões de cunho teórico metodológico no interior de uma problemática de
maior vulto, que é a proposição de um pensamento crítico na construção do conhecimento 
geográfico.
Palavras-chave: produção do espaço; (des)construção; rugosidades
Abstract
Reflecting on production of space
The goal of this paper is to analyze briefly the theoretical bases of “production of space’
concept as well as its utilization by critical current of the Brazilian geography. The cental
idea is to raise the debate on the critical concept of production of space to bring along some 
questions de methodological and theoretical nature inside a greater issue which is the
proposal of the critical thought in geographic knowledge construction.
Key words:production of space; desconstruction; corrugation
1
 Professor do Departamento de Geografia. Universidade Estadual Paulista/Unesp/Campus de Rio Claro
Rua 10 n. 2527, Santana, Rio Claro –SP; Cep: 13500-230. Fone: (19) 3526 2225. E-mail: prtg@rc.unesp.br .Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 30
INTRODUÇÃO
Tanto Platão como Aristóteles, concebiam o espaço e a matéria como sendo
inseparáveis e a geometria o seu elo abstrato de ligação. Na filosofia moderna, o espaço não 
é nem substância, como queria Newton, e como teriam dito Leucipo e Demócrito, nem um
adjetivo dos corpos extensos, como em Descartes, mas um sistema de relações como
afirmara Leibniz (RUSSEL, s./d.). Newton, influenciado por Varenius, ao tentar unificar e
complementar as idéias de Aristóteles e Platão, fez triunfar o dualismo com a formulação
de espaço relativo e espaço absoluto. Na geografia, esse dualismo amadureceu sob a forma 
hartshorneana de geografia nomotética e geografia idiográfica.
A distância que nos separa das idéias e dos autores citados, é apenas aparente, pois, 
os problemas teóricos aí colocados estão na origem do atual debate geográfico sobre a
produção do espaço. 
Na segunda metade do século XX, a geografia já havia conhecido tempestivas
transformações teóricas e conceituais no interior de seu corpo científico, e as definições de 
espaço se multiplicado pelas inúmeras metodologias empregadas em seu estudo. 
O espaço passa a ser visto como uma criação humana que se realiza através do movimento 
da sociedade sobre a natureza. A natureza apresenta-se, neste caso, separada da sociedade, 
constituindo a base física sobre a qual o homem atua e produz o espaço geográfico ou, em 
outras palavras, a “segunda natureza”. A “primeira natureza” é concebida como algo que 
não pode ser produzido, é a antítese da atividade humana (SMITH, 1988).
A idéia de uma “segunda natureza” surge com o desenvolvimento das economias de 
troca e com as instituições estatais. Dentre os filósofos gregos, somente Platão percebia as 
intensas transformações da paisagem pelas atividades humanas. Mas foi o romano Cícero,
no século I a.C. em De natura Doerum quem melhor definiu a segunda natureza: 
à nossa disposição estão montanhas e planícies. Nossos rios e lagos. Colhemos 
o milho e plantamos árvores. Fertilizamos o solo pela irrigação. Represamos 
os rios para orientá-los a nosso bel prazer. Pode-se dizer que com nossas 
mãos tentamos criar uma segunda natureza no mundo natural (SMITH, 1984, 
p. 16).
A separação do conceito de espaço em relação aos lugares particulares, surge com
as origens da filosofia moderna, onde a consciência do espaço não decorre mais da prática 
imediata, mas da ação sobre um espaço abstrato.
Estas primeiras passagens citadas acima mostram, resumidamente, que os
problemas teóricos que cercam o debate sobre a produção do espaço remontam a própria 
institucionalização da geografia como saber científico. O propósito deste artigo não tem,
evidentemente, a pretensão de recuperar a gênese histórica desse debate teórico, mas
somente de colocá-lo em discussão a partir de dois conceitos que julgo relevantes para
suscitar uma nova interpretação do problema aqui proposto. Esses conceitos são:
(des)construção e “rugosidades” espaciais. Entendo-os como “conceitos-piloto” que
procuram redefinir as orientações explicativas sobre os movimentos de interação e
retroação do objeto de análise no contexto histórico, como também, uma forma de ampliar 
as possibilidades de realização de um pensamento verdadeiramente crítico, na construção
do conhecimento geográfico. Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 31
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO
A expressão “produção do espaço”, provavelmente cunhada por Lefebvre no final
dos anos 60, visa responder aos processos de reprodução das relações capitalistas de
produção. O espaço para Lefebvre (1974) consiste, grosso modo, no lugar onde as relações 
capitalistas se reproduzem e se localizam com todas as suas manifestações de conflitos e
contradições. Embora Lefebvre tenha contribuído para análise espacial ao incluir a idéia de 
produção do espaço na tese reproducionista, esta não representou, de acordo com Smith
(1988, p. 142), uma “ruptura radical com a tradição marxista clássica, especialmente (...) no 
que diz respeito à produção da natureza e à relação entre natureza e espaço”.
No final dos anos 70, a imunização contra o pragmatismo descritivo da disciplina, 
assume a forma de uma concepção estrutural de sociedade e de espaço cujo foco das
análises dirigia-se para as contradições, os conflitos e os antagonismos inerentes aos
movimentos da estrutura social. Logo, o espaço revelava no conteúdo de suas formas as
mesmas contradições que o produziram. Essas, por sua vez, geravam também as condições 
de reprodução das relações sociais. Nesse sentido, o espaço é resultado e, ao mesmo tempo, 
condição da reprodução social. Em outras palavras, o espaço consiste em um “efeito” que 
se transforma em “causa”, ou, um resultado que se transforma em processo.
Para Santos (1991, p. 38), a idéia central da interpretação da produção espaço situase na combinação simultânea entre a forma, a estrutura e a função. Isso porque, “os
movimentos da totalidade social modificando as relações entre os componentes da
sociedade, alteram processos e incitam funções”. Essa totalidade social, crê o autor,
pressupõe a existência de um movimento dialético da estrutura que opera sobre as formas e 
funções, fazendo com que os lugares tornem-se combinações de variáveis que diferenciamse ao longo do tempo.
A diferenciação entre as variáveis resulta tanto da periodização histórica, pois
atravessam épocas posteriores ao seu surgimento e convivem com variáveis novas, quanto
de suas formas de espacialização, isto é, do seu lugar de origem e de sua difusão territorial.
Nesse sentido, é a idéia de movimento da totalidade no tempo e no espaço que fundamenta 
a concepção de que o espaço é produzido no e pelo movimento da totalidade social.
Consiste, portanto, em uma “geografização” do movimento estrutural da sociedade que se
traduz espacialmente em novas formas e funções e estas, ao se combinarem para atender as 
necessidades geradas pelos “efeitos” de reestruturação dos processos de organização das
relações sociais, produzem o espaço. Neste caso, a idéia de produção do espaço torna-se 
prisioneira de sua conotação técnica e econômica e adquire a noção de fabricação repetitiva 
de formas e geração de movimentos.
A produção do espaço consiste, então, na realização prática de produção de objetos 
“geograficizados” segundo uma dada lógica econômica, e destinam-se a cumprir funções
diferenciadas em sintonia com as necessidades de reprodução das relações sociais de
produção e da divisão social do trabalho. 
Em A Natureza do Espaço, Santos (1996, p. 21) tem com o ponto de partida a definição de 
espaço como um “conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistema de ações”. Esta 
noção permite, segundo o autor, reconhecer, entre outros conceitos, o de produção do
espaço e de rugosidades.
Sem estender-se em detalhes referente a fundamentação teórica da concepção do
autor acima, seguiremos a direção de análise cujo ponto de partida é o entendimento de que Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 32
a produção do espaço insere-se em um sistema de pensamento que assenta-se em uma dada 
lógica interpretativa visando revelar o movimento de transformação de determinadas partes
da totalidade.
A idéia de sistema retroativo permite-nos repensar, em síntese, a relação dialética
entre o conceito e a fundamentação lógica da teoria que o sustenta. O sistema de
pensamento, construído enquanto um método de pensar, de analisar e de interpretar um
determinado objeto, organiza a relação entre o sujeito e o objeto de diferentes modos:
separando-os, e assim construindo um conhecimento reducionista dado o caráter sistêmico
de sua organização; ou, unindo-os e os integrando em uma organização que se reorganiza 
dialeticamente, produzindo um conhecimento complexo e crítico. Trata-se de imunizar o
conceito de produção do espaço contra o simplismo mecanicista da “geografização das
variáveis”.
Assim, quando se fala em produção do espaço deve-se, primeiramente, entender que 
os conceitos que procuram explicá-la se organizam a partir de uma lógica interpretativa
correspondente aos objetivos traçados pelo sujeito. Para esclarecer essa questão, vamos
partir do conceito de produção. Na análise da produção do espaço, a idéia de produção está 
ligada ao conceito marxista de trabalho e às noções de transformação e mudança. A
“produção” implica também em organização do trabalho e dos meios necessários para a
sua realização enquanto produção de valor. Vale lembrar que, os meios necessários ao
trabalho constituem-se, também, em trabalho. Pode-se pensar que o espaço produzido é
produto do trabalho, isto é, de uma organização do trabalho que se materializa em formas 
espaciais. A “produção” significa, então, “trabalho morto” e organização.
Para Marx, o conceito de trabalho, pode ser entendido como atividade teleológica de 
transformação da Natureza e como síntese inseparável da natureza objetiva, circundante, e a 
natureza subjetiva do homem. O ‘trabalho’ constitui o “princípio gerador” do homem e não 
apenas uma atividade produtiva, mas enquanto constituição de uma natureza objetiva e de
um horizonte de apreensão e transformação da realidade. Neste sentido, o conceito contém
uma dupla dimensão: a de transformação da natureza e de constituição de objetos, que
trazem o momento da objetividade constituída (MÜLLER, 1978).
Vale ressaltar que os conceitos de trabalho e produção se alteram ao longo da obra 
de Marx. Nos Manuscritos Econômico-Filosóficos (1844), o conceito de trabalho funciona 
como equivalente do conceito de ‘práxis revolucionária’ (primeira tese contra Feuerbach),
envolvendo todas as objetivações da essência humana.
Essa concepção torna-se, no entanto, alvo de uma crítica enfática de Habermas
(1987): se a práxis é considerada como um dos aspectos do trabalho, está incluída no agir 
instrumental, assim, a práxis tende a ser reduzida ao trabalho, a ‘síntese materialista’ tende 
a tornar-se unidimensional e as relações de produção são apenas um momento da produção 
material. 
Em uma passagem dos Grundrisse, Marx diz: “o desenvolvimento do capital fixo
indica até que ponto o saber social universal, knowledge, tornou-se força produtiva
imediata, e, portanto, até que ponto as condições do processo de vida social foram
submetidas ao controle do general intellect” (MÜLLER, 1978, p. 24). Ao apontar as
contradições imanentes do capital, Marx mostra que as relações sociais de produção e o
quadro institucional em que se realiza a integração social, não são meras especificações ou
efeitos do processo de trabalho. 
O conceito de espaço, por sua vez, apresenta múltiplas faces de interpretação. Mas, 
a junção estabelecida entre os dois conceitos – produção/espaço – elucida a matriz teórica Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 33
do sistema de pensamento que o sustenta. Percebe-se que as categorias que executam uma 
operação de análise fundamentam-se no conceito de trabalho, enquanto objetivação da
síntese homem-natureza através das correlações entre a estrutura normativa dos
intercâmbios sociais com as rugosidades exteriorizadas do capital fixo no interior do
processo de desenvolvimento das forças produtivas. A variável espacial pode, então, ser
explicitada pela verificação de caráter empírico da divisão social do trabalho.
Assim, a produção do espaço é produção de objetos que articulam e organizam, em 
suas funções específicas, intercâmbios sociais que envolvem o trabalho e a produção. O
espaço seria, neste caso, a materialidade e a mediação entre os sistemas de produção, de 
controle e reprodução do trabalho em sua dimensão técnica e material. Em poucas palavras, 
o espaço seria um sistema de sistemas ou, como quer Santos (1996), “sistemas de objetos” 
e “sistemas de ações”.
Pode-se pensar, então, que o espaço não é um objeto de análise mas um sistema de 
objetos. Interpretá-lo, portanto, na ótica de sua produção faz com que o espaço torne-se a 
dimensão empírica da organização das ações que o produz. A organização das ações
emergem, por sua vez, de uma estrutura normativa e reguladora cujo movimento é dado
pelos processos de transformações resultantes das relações entre trabalho e capital. Isto
significa que as formas espaciais produzidas contêm elementos das partes e do todo, como 
também elementos novos surgidos da generatividade dessas relações. A natureza mutante
das relações sociais traz, por sua vez, mudanças na organização dos “sistemas de ações” e, 
portanto, na eficácia da funcionalidade das formas – nos “sistemas de objetos”. Nesse
sentido, acredito que a análise da produção do espaço significa, também, uma análise da 
(des)construção do espaço produzido. 
O CONCEITO DE (des)CONSTRUÇÃO 
A noção de (des)construção do espaço baseia-se na concepção de que a sociedade 
pós-moderna, ao mesmo tempo em que produz formas espaciais correspondentes, em um
dado momento histórico, às necessidades de produção, circulação, consumo e informação, 
também as dissolvem e as redefinem em sintonia com as novas necessidades sociais que
emergem, por sua vez, em um dado momento para, em seguida, serem diluídas e
transformadas.
De acordo com Dosse (2001), o conceito de (des)construção possui suas raízes mais 
profundas em uma reflexão epistemológica de denúncia ao historicismo, em que a história
não coloca-se em situação de exterioridade em relação à estrutura mas é “desconstruída” 
por dentro. Essa reflexão, portanto, assumiu duas formas: a nietzschiana, com Michel
Foucault e a heideggeriana, com Jacques Derrida. 
A abordagem nietzschiana, a que mais aprofundou o conceito de (des)construção,
coloca-se essencialmente relativista: “já não há continuidade por apreender nem
racionalidade a atuar no pensamento e na ação do homem, e como o sujeito se encontra 
preso nas malhas do objeto, num laço indissolúvel e imutável, nenhum modo de ver é
estável”. O mirante heideggeriano traduz-se pela “busca da verdade, da gênese do sentido”, 
a história “é uma história pluralizada, fundamentalmente heterogênea” (DOSSE, 2001,
p.219).
A visão de Derrida sobre a (des)construção deriva, segundo Johnson (2001, p. 47), 
das análises sobre os pensamentos de Rousseau, Saussure e Lévi-Strauss. AEstudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 34
(des)construção para o filósofo francês tornou-se uma “modalidade de pesquisa filosófica” 
e uma forma de “diálogo crítico que usa os exemplos de casos particulares (...) como
sintomas de uma configuração ou estrutura mais geral”. Além disso, coloca-se como uma 
possibilidade de ampliação dos quadros de referências e de ‘desvelamento’ dos “sistemas
rígidos de oposições, que habitualmente moldam e restringem nossa compreensão do
mundo”.
A idéia de (des)construção procura enlaçar as concepções de mutabilidade das
estruturas do tempo, do espaço e do pluralismo histórico contido no interior das estruturas. 
A (des)construção do tempo está ligada a uma abordagem da história que procura
incessantemente superar os conceitos que a petrificam em um tempo abstrato.
Entende-se a (des)construção do espaço como um processo de supressão e
emergência de formas e funções que atendem às necessidades, em um dado momento, da 
divisão social do trabalho, da acumulação capitalista e do poder estatal. A supressão de
formas espaciais significa, na verdade, a supressão de ‘rugosidades espaciais’ (SANTOS,
1980).
AS “RUGOSIDADES”
A idéia de ‘rugosidades espaciais’ expressada de diferentes modos desde o século 
XIX por Marx, Cavaillès, Bachelard, Canguilhem, Hegel, Engels e outros autores, foi
revisada por Milton Santos (1980) com o objetivo de fundamentar o importante papel das 
heranças espaciais nos diferentes períodos da história. 
A noção de ‘rugosidades’ complementa a concepção de que a produção do espaço é, 
ao mesmo tempo, construção e destruição de formas e funções sociais dos lugares. Ou seja, 
a (des)construção do espaço não refere-se apenas à destruição e à construção de objetos 
fixos, mas também às relações que os unem em combinações distintas ao longo do tempo.
Para Santos (1980, p. 138): 
“as rugosidades nos oferecem, mesmo sem tradução imediata, restos de uma
divisão de trabalho internacional, manifestada localmente por combinações
particulares do capital, das técnicas e do trabalho utilizados (...) O espaço
portanto é um testemunho; ele testemunha um momento de um modo de
produção pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na paisagem
criada. Assim o espaço é uma forma, uma forma durável, que não se desfaz
paralelamente à mudança de processos; ao contrário, alguns processos se
adaptam às formas preexistentes enquanto que outros criam novas formas para 
se inserir dentro delas”. 
As ‘rugosidades’ são, nesse sentido, as formas espaciais do passado produzidas em
momentos distintos do modo de produção e, portanto, com características sócio-culturais 
específicas. Nessa linha de interpretação, as ‘rugosidades’ constituem-se em paisagens
técnicas que podem ser periodizadas segundo o desenvolvimento do modo de produção ao 
longo do tempo histórico. 
De acordo com Santos (1992, p. 55): 
“o estudo da paisagem pode ser assimilado a uma escavação arqueológica. Em
qualquer ponto do tempo, a paisagem consiste em camadas de formas
provenientes de seus tempos pregressos, embora estes podem ter sofridoEstudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 35
mudanças drásticas (...) Assim, se a forma é propriamente um resultado, ela é 
também fator social ”.
A (des)construção do espaço ocorre nesse sentido, mediante o aparecimento de
novas funções que se adaptam às formas antigas ou criam formas novas, reorganizando a
circulação de mercadorias e idéias e redefinindo, através da divisão técnica do trabalho,
novos espaços de produção e consumo. 
A emergência de novos arranjos espaciais, no entanto, não suprime integralmente as 
formas do passado mas as renovam através das funções que adquirem na articulação do 
território e, ao mesmo tempo, fazem-nas objetos de um sistema de ações econômicas,
políticas e sociais que visam produzir as condições materiais de produção, a capacidade de 
“controle” sobre o território e de regulação do processo de acumulação capitalista. Como 
argumenta Carlos (1996, p. 128), “o capitalismo produziu o espaço da mundialidade por
relações novas de reprodução e dominação”. 
No entanto, o “controle” não se faz cumprir somente no sentido político e
ideológico da ação social mas, no sentido econômico e técnico-informacional dos
mecanismos de acumulação do capital e de organização das forças produtivas. A
centralização das informações e das decisões em escala planetária atua, de modo relativo,
na tentativa de restringir as ‘rugosidades espaciais’, como argumenta Santos (1980); ou de 
suprimir, na acepção de Harvey (1993), o espaço através do tempo produtivista.
A capacidade de fluidez e articulação das novas relações de produção, acumulação e 
consumo no processo de (des)construção de ‘rugosidades espaciais são possíveis em
virtude da redução temporal entre os lugares através da difusão momentânea das mudanças 
manifestas nos centros informacionais de decisões, como também pela aceleração da
circulação de mercadorias e fragmentos sócio-culturais em escala mundial.
Em relação ao argumento citado acima, referente ao estudo da paisagem como
escavação arqueológica, poder-se-ia dizer que as camadas produzidas nos últimos 50 anos 
seriam extremamente compactas, porém, numerosas. A deposição acelerada das sucessivas 
camadas caracterizaria, desse modo, o processo de (des)construção do espaço.
Outro argumento na mesma direção explicativa, procurou mostrar que, com a atual
racionalidade tecno-científica e informacional, o capital mundial seria levado a adaptar-se 
ao espaço e não mais o contrário. Passa-se, por um lado, para o processo de (des)construção 
de formas espaciais vinculadas à intensidade e à multiplicidade de funções atribuídas em
períodos de tempo cada vez mais restritos, e, por outro, em virtude do aumento na
velocidade de giro do capital e da expansão do “império do consumo efêmero” e
massificado, os lugares tornar-se-ia a condição e o resultado da mundialização da economia 
e da cultura técnica. 
A concepção de Santos (1980) a respeito das ‘rugosidades’ e do estudo das
paisagens técnicas nos permite esclarecer questões importantes relacionadas à densidade
técnica dos lugares e do papel das heranças espaciais na reorganização das relações de
produção, consumo e poder.
Contudo, deve-se apontar dois aspectos merecedores de maior atenção e que
conduzirão a uma melhor compreensão da noção de ‘rugosidades’ e, em contrapartida, de 
(des)construção do espaço. O primeiro refere-se à seletividade do capital. Se o capital visa a 
obtenção de altos lucros a baixo custo, isso por si só, bastaria para imprimir-lhe o caráter de 
seletivo. Desse modo, poder-se-ia afirmar que desde a expansão marítima no século XVI, o 
capital mostrou-se seletivo na escolha dos lugares para sua reprodução e acumulação.
Nesse caso, a alteração se deu em relação à capacidade de seletividade dada pelos meios Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 36
técnicos de investigação e de reconhecimento de um número crescente de lugares e
condições materiais e imateriais para a acumulação capitalista. 
O conhecimento tecno-científico uma vez constituído como força produtiva,
estabeleceu não somente as diretrizes e os métodos de organização e planejamento da
produção e dos recursos, circulação e demanda, como também uma capacidade cada vez
maior de reconhecimento do território em suas potencialidades de exploração. 
O segundo aspecto trata do papel do Estado na produção das condições de
reprodução do capital e do trabalho. Durante todo o século XX, em grande parte dos países 
capitalistas e, particularmente no Brasil, as condições objetivas de reprodução social do
capital foram produzidas através do Estado. A produção dessas condições resultou, para os 
fins que se pretendeu nesta reflexão, em supressão das ‘rugosidades’ através da
(des)construção das paisagens herdadas e da reorganização dos fluxos de bens, de capitais e 
de pessoas.
De acordo com Carlos (1996, p. 129), “ a construção de um espaço novo a partir de 
um preexistente (ora integrando, ora destruindo) inclui a articulação da técnica e do saber à 
gestão” onde o Estado, ao lhe atribuir funções, constitui-se em um espaço de dominação”.
O fato, entretanto, da seletividade do capital não ser espontânea e sim planejada,
contando com meios eficazes de pesquisa e de avaliação das condições materiais e de
possibilidades de investimentos, faz com que o processo de (des)construção do espaço
apresente-se como apropriação do espaço público pelas funções e necessidades do capital
privado. 
A seletividade do capital recoloca, em outros termos, a relação entre mercado e
planejamento. De acordo com Ianni (1995, p. 151), “a globalização do capitalismo reaviva 
a controvérsia mercado ou planejamento ao nível dos setores produtivos, das economias
nacionais, dos blocos regionais e, obviamente, da economia mundial como um todo”. O
planejamento apresenta-se, desse modo, como uma “técnica de organização e dinamização 
das forças de mercado (...) uma técnica versátil, podendo influenciar a racionalização das
forças produtivas, inclusive funcionando como técnica anticíclica. Na medida em que se
traduz em diretrizes, normas de ação e instituições, envolvendo padrões e valores sócioculturais e jurídico-políticos, influencia as relações de produção também em termos de
racionalização, sempre em conformidade com as exigências da reprodução ampliada do
capital”.
Esses dois aspectos permitem avaliar a dimensão econômica da noção de
‘rugosidades’, notando que se constituem em espaços de rigidez a partir da perspectiva do 
capital, como também a significação política da relação entre o espaço público e privado no 
processo de emergência e supressão de formas e funções espaciais. 
Por outro lado, a revisão realizada por Santos (1980-1992) acerca do significado das 
formas espaciais herdadas na organização de novas funções e necessidades sociais, apontou
direções de análises e de interpretações do processo de (des)construção do espaço que
fundamentam a concepção de que, a “mundialização dos lugares” não implica “falência” da 
região, mas (des)construção dialética de ‘rugosidades espaciais’ que atendem, em um dado 
momento histórico, às necessidades socioeconômicas. 
Enfatizou-se que a aceleração do tempo produtivista e a velocidade de circulação de 
informações e de idéias não implicaram, como esclarece Harvey (1993, p. 265), o 
“decréscimo da significação do espaço (...) O aumento da competição em
condições de crise coagiu os capitalistas a darem muito mais atenção às
vantagens localizacionais relativas, precisamente porque a diminuição deEstudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 37
barreiras espaciais dá aos capitalistas o poder de explorar, com bom proveito, 
minúsculas diferenciações espaciais (...) A fuga de capitais, a
desindustrialização de algumas regiões e a industrialização de outras (...) se
tornam o pivô na transformação espacial sob condições de acumulação mais
flexível”.
Soja (1993, p. 209-210) argumenta que: 
“o período contemporâneo de reestruturação tem sido acompanhado por uma
visibilidade e uma conscientização acentuadas da espacialidade e da
espacialização, da regionalização e do regionalismo. A instrumentalidade das
estratégias espaciais e locacionais da acumulação do capital e do controle social 
está sendo revelada com mais clareza do que em qualquer época dos últimos
cem anos”.
Nesse sentido, a introdução de novos capitais em uma dada região ou, como quer 
Harvey (1993), de modalidades flexíveis de acumulação e gerenciamento, supõe a busca de 
vantagens comparativas que se materializam em formas espaciais novas ou na reutilização
de formas preexistentes, proporcionando, em escala local-global, a intensificação dos
fluxos de bens e informações. As vantagens comparativas podem apresentar-se 
momentâneas ou transitórias e gerar formas espaciais cujas funções serão dissolvidas na
medida em que as vantagens localizacionais tornarem-se ‘rugosidades’ para a reprodução
do capital.
Diante das colocações acima, o conceito de (des)construção procurou traduzir um
processo que envolve a sociedade e o espaço em uma relação recíproca de transformações 
que se materializam em formas e funções e, ao mesmo tempo, integram e suprimem as
paisagens técnicas herdadas. O conceito preocupa-se, basicamente, “com a construção
como processo dialético de destruição da construção” (Carvalho, 2001, p. 16). 
A retomada desse conceito, portanto, possui razões históricas que o tornam, às
vezes, uma expressão do “modismo” acadêmico ou de um “debate surdo” entre as
concepções de modernidade e pós-modernidade, em que o nome da coisa mostra-se mais 
importante que a própria coisa.
Entre os principais motivos que levaram alguns autores ao resgate do conceito de
(des)construção, estão os que se relacionam, por um lado, às transformações históricas do 
capitalismo entre as décadas de 1960 e 1990 e, por outro, ao esgotamento teórico de
paradigmas científicos sustentados pelas visões generalizantes de totalidade.
 Os efeitos espaciais mais explícitos dessas transformações deram-se com o processo de
urbanização da sociedade. As cidades, sobretudo as metrópoles, tornaram-se os lugares de 
experimentação de um novo urbanismo e de uma nova estética arquitetônica.
Aggio (1992, p. 96-97) informa que: 
“mediante a aplicação dos princípios do taylorismo ao meio urbano, as ações
humanas, concebidas tão-somente como um conjunto de operações
determinadas com precisão, transformam-se em objeto de uma tentativa de
disciplinarização, onde os elementos da vida cotidiana, que consistem em atos 
puramente secundários e, portanto, à margem de qualquer consideração”. 
A re-urbanização das cidades, apoiada em novas tecnologias da engenharia civil e
dos materiais de edificações e estreitamente vinculadas às mudanças estéticas da
desindustrialização, levantou evidências nos anos 70 e 80, de que as estruturas sócioespaciais produzidas durante as fases de industrialização fordista encontravam-se em
processo de dissolução e aniquilamento, sendo substituídas por novas formas e novasEstudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 38
funções exigidas pelo emergente modelo de acumulação flexível. Na concepção de Harvey
(1993), a transição do regime de acumulação fordista para o modelo de acumulação
flexível, iniciada na década de 1960 e parcialmente completada no início dos anos 90,
provocou mudanças estruturais não somente na base produtiva, mas em todos segmentos do 
consumo de massa, da arte, da circulação e dos serviços públicos e privados. 
Pode-se argumentar, neste caso, que as ‘rugosidades espaciais’ expressam a noção 
de rigidez do espaço em que as cidades edificadas pelas indústrias do regime de
acumulação fordista constituíram-se nas ‘rugosidades’ enfrentadas pela
“desindustrialização” das indústrias da acumulação flexível.
Em relação à polêmica teórica em torno da concepção de uma economia com
relações de produção denominadas flexíveis, preferiu-se o não aprofundamento deste
problema nem, tampouco, a aceitação sem fundamentos prévios, da idéia de que a expansão 
do capitalismo tecnológico ocorre de igual modo em diferentes escalas espaciais. De
passagem, vale dizer que “as tecnologias e formas organizacionais flexíveis não se
tornaram hegemônicas em toda parte – mas o fordismo que as precedeu também não”
(Harvey, 1993, p.291).
A concepção de que a “economia e a sociedade são regidas por novos imperativos, 
por uma tecnociência computadorizada, que invade o nosso cotidiano”, coaduna com a
visão cuja análise dos fragmentos e interstícios produzidos pela mundialização do capital
dispensa a compreensão do todo e recomenda a valorização das diferenças (ROUANET, 
1986, p. 87). 
A concepção de (des)construção do espaço deve considerar que a compreensão da 
realidade em escala local supõe o envolvimento, a interação e a articulação combinada com 
outras escalas de tempo e de espaço. De acordo com Randolph (1992, p. 379), 
“esta dialética vai além de uma simples articulação de escalas; tem sua origem
na própria concretude do processo histórico. Pois mesmo em períodos de
ordenamentos, integração, generalização e articulação, mormente através do
Estado na história mais recente, identifica-se momentos de desintegração,
fragmentação e desordem que fazem parte do mesmo processo histórico”.
A (des)construção do espaço expressa-se na vaga do movimento dialético da
totalidade com as partes, de modo que a emergência de uma nova forma espacial traduza 
fragmentos da totalidade e combinações específicas em diferentes escalas de tempo e de
espaço. Assim, a forma espacial torna-se um fator social não apenas pela sua durabilidade 
no tempo, mas pelo conteúdo técnico, cultural e ideológico de atribuir “valores sociais ao 
espaço”. 
A supressão das formas espaciais diante das ações dos fragmentos da totalidade
presume que a dissolução e a “descartabilidade” do conteúdo das formas ocorram através 
da imposição de funções provisórias que se instalam por forças ocasionais de mercado e das 
vantagens comparativas. 
Como visto anteriormente, a introdução de novas modalidades de produção,
gerenciamento, regulação e controle de caráter global não suprimem as condições objetivas 
de produção e de reprodução do capital em escala regional. Como argumenta Lencioni
(1999, p.192), “as diferenças emergem e se contrapõem ao processo que tende a anulá-las”. 
Para Ianni (1995, p. 151), a “globalização não apaga nem as desigualdades nem as 
contradições que constituem uma parte importante do tecido da vida social nacional e
mundial”. Pois, se a globalização consiste em um processo de fragmentação torna-se, ao 
mesmo tempo, um movimento de regionalização e de individualização do espaço.Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 39
Nesse sentido, a questão regional recoloca-se conceitualmente, propondo novas
abordagens sobre a espacialização dos processos sociais e, em certo sentido, deixa em
evidência os equívocos daqueles que acreditam na “implosão” ou na “falência” sumária da 
região.
O conceito de (des)construção do espaço apresenta-se, nesse momento, como um
instrumento de análise do processo de formação sócio-espacial que busca, através da
periodização das paisagens técnicas e do processo de supressão das ‘rugosidades’,
compreender a produção do espaço mediante a combinação entre as formas e as funções 
espaciais, em um dado momento da divisão do trabalho e do desenvolvimento do modo de 
produção. Vale dizer, de passagem, que consiste em uma via conceitual a ser explorada
teoricamente na perspectiva da análise espacial.
Se, entretanto, a fundamentação do conceito de (des)construção encerrar-se na
análise das representações, poder-se-ia argumentar que a sua fundamentação teórica, no que 
se refere à Geografia, estaria ligada à abordagem humanista que se firmou, nos anos 70, 
com a fenomenologia de Tuan, Buttimer, Relph, Mercer e Powell e que, gradativamente,
foi penetrando em diferentes temáticas de estudos geográficos.
A perspectiva fenomenológica na Geografia, de acordo com Lencioni (1999, p.
153), apresentou-se como uma forma de “recuperação do humanismo que a Nova
Geografia havia feito desaparecer com seus modelos teóricos (...) Esse humanismo
significou um novo trilhar da geografia (...) A referência passou a ser o espaço vivido,
aquele que é construído socialmente a partir da percepção das pessoas”. 
A filosofia subjacente à abordagem da Geografia humanista é a fenomenologia
existencial de Husserl, Merleau-Ponty e Heidegger. Segundo Entrikin (1980, p. 16), “O
humanismo contemporâneo em Geografia enfatiza o estudo de significados, valores, metas
e propósitos”. A noção de espaço “está relacionada de muitos modos com as idéias de Kant, 
James e à psicologia da Gestald sobre a natureza do espaço e percepções espaciais”. Para a 
Geografia existencialista, o espaço define-se como “uma rede intencional que conecta
objetos de interesse com a consciência intencional (espaço egocêntrico). Os conceitos de
lugar e paisagem, passaram a apresentar-se como o “centro de significância ou um foco de 
ação emocional do homem”(ENTRIKIN, 1980, p. 23). O lugar, para o geógrafo humanista, 
é, antes de tudo, um repositório de significados.
Para Collot (1990, p. 21), entre as diversas “entidades espaciais construídas por 
intermédio de um sistema simbólico, científico (...) ou sócio-cultural (...), a
paisagem se define incontinente como um espaço percebido: constitui o aspecto 
visível, perceptível do espaço .(...) A paisagem percebida é, já, então, construída 
e simbólica”. Na visão nietzschiana, a paisagem percebida seria, também, uma 
paisagem (des)construída.
Entre os pontos de contato da visão fenomenológica da Geografia da percepção e o 
conceito de (des)construção, como uma fenomenologia da paisagem, está o atribuir às suas 
formas diferentes funções simbólicas que incidem sobre as práticas sociais. A
(des)construção da paisagem dar-se-ia, nesse sentido, com a mudança do significado
simbólico das formas e, portanto, do modo como elas afetam os valores culturais e os
mecanismos cognitivos de percepção da paisagem (des)construída.
Longe de ignorar ou reduzir as concepções sobre paisagem e região sobreditas ou de 
tecer críticas vazias sobre os aspectos frágeis do conceito de (des)construção, quer-se 
explicitar, na verdade, que o conteúdo que se atribui ao conceito trata das relaçõesEstudos Geográficos, Rio Claro, 2(1): 29 -42 , junho - 2004 (ISSN 1678—698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm 40
dialéticas entre a economia política da urbanização e o processo de emergência e supressão 
de formas e funções na produção do espaço urbano regional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os problemas teóricos levantados neste artigo são ingredientes fundamentais de
uma reflexão mais aguda sobre o pensamento crítico da geografia. A reflexão crítica deve, 
entretanto, nutrir-se da auto-crítica de seus instrumentos de análise e nos conduzir a uma
reavaliação do método e da relação sujeito-objeto na construção de um conhecimento 
complexo do espaço social.
A noção de “segunda natureza”, entremeada ao conceito de produção do espaço, não 
deve fazê-los sinônimos, pois a idéia de “segunda natureza” como algo realizado pelas
mãos do homem, não tem o mesmo sentido empregado no conceito de produção do espaço. 
Ambos os conceitos não se excluem, eles interpenetram-se segundo a lógica interpretativa 
do sistema de pensamento de modo a favorecer uma relativa imunização contra o
reducionismo sistêmico.
Em suma, através de breves considerações sobre a produção do espaço, quis mostrar 
as possibilidades de reavaliação de conceitos e noções que cercam o debate geográfico
sobre o espaço social. Vale salientar, finalmente, que as considerações que encerram este 
artigo não esgotam as questões que foram aqui enfocadas. Pois, uma das premissas deste 
artigo foi a de apontar caminhos para novos estudos a respeito dos processos de
(des)construção e “rugosidades” espaciais.
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